TEXTO ACIMA DA MÉDIA - 2ª SÉRIE - CERCEAMENTO DA LIBERDADE

05/10/2011 09:08

Proposta: Cerceamento da Liberdade – DISSERTAÇÃO FUVEST 2005

 

    Instalada no largo do Arouche, na cidade de São Paulo, em julho do ano de 2004, uma catraca enferrujada erguida a posto de monumento pelo grupo artístico “Contra Filé” incitou a visão de liberdade coexistente à atual civilização. Segundo os criadores, o “monumento à catraca invisível” busca criticar o excesso de forças coercivas visíveis ou invisíveis sobre os cidadãos mediante as diretrizes de cunho político, religioso ou social pelas quais estes são hereditariamente instruídos.

    Símbolo aprimorado e moderno de fiscalização da ordem, a catraca é igualmente um signo de cerceamento da liberdade que representa muitos outros artifícios de controle inseridos no cotidiano, embora tal condição não seja exclusiva da contemporaneidade. O significado real do livre arbítrio é questionado desde a criação do Estado, como visto em “O Leviatã”, de Thomas Hobbes, livro no qual o autor declara a presença de um contrato social entre o Estado e os indivíduos, enquanto estes se encontravam no estado da natureza e permutaram parte da autonomia que possuíam por proteção e defesa, fornecidas pelo contratante a fim da possibilidade de uma vida em sociedade.

    Concomitante ao surgimento da cidadania, originaram-se problemas envolvendo a desigualdade social em vários âmbitos, enrijecendo o poder de ação das “catracas” já existentes. Tais limitações impostas justificam-se por questões de segurança aos cidadãos, visando ao bem-estar populacional, e embora exista claramente o detrimento da liberdade, restrições como a vigilância a partir de câmeras e o controle no sistema de entrada e saída em determinados locais tornam-se elementos necessários diante de ações corrompidas do homem moderno. Semelhantes atos, entretanto, também se originam das “catracas” invisíveis criadas em razão da elevação de hierarquias e a consequente separação da sociedade em classes, como o preconceito em todas as suas formas, excluindo, humilhando e constrangendo os indivíduos a esta pertencentes.

    O projeto de “descatracalização da vida”, do grupo artístico “Contra Filé”, pode ser validado ao serem considerados os modelos agressivos de controles, difamadores da dignidade humana, entretanto, é errôneo e radical o ideal de dissolução de todas as limitações existentes na atualidade, considerando-se a realidade de mediações essenciais à manutenção da qualidade de vida.

 

 

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